Crônica
Relato de uma noite em vão
A expectativa ronda sua mente. É aniversário da mulher que enaltece seus anseios. Decidiu ir à festa acompanhando os amigos. Não estava com tanta vontade de farra, pensara ver um filme na TV ou fuçar besteiras na Internet. Mas decidiu ir, acha que chegou o momento de se declarar. Acredita ser a menina certa, já algum tempo sentia falta de uma namorada. Uma pessoa que o compreenda e o complete. Seu problema é crer demais nos amores perfeitos dos seus filmes e livros preferidos, talvez, por isso seja muito recluso às vezes. Movido pelos sentimentos com a ida à festa, adotou uma convicção que o encheu de coragem para tentar cortejar a mulher que tanto lhe embaraça os sonhos.
Entre ele e ela existe uma amizade bacana, mas ele se maltrata demais em sentir culpado de ter apaixonado por ela. Ela não sabe, ou finge que não, ele nunca foi franco com ela sobre seu verdadeiro sentimento. Vive a lamentar, se deveria ser sincero com ela, pelo menos uma vez. Mas é temeroso demais em não ser correspondido. Se apaixonar por ela não é algo difícil, é uma mulher que detêm uma beleza exuberante. Olhos verdes claros que reluzem um fitar indefectível com um jeitinho meigo e doce de falar. Além da beleza, é uma pessoa muito carinhosa e atenciosa. Petulância ingênua. Suas qualidades instigam um ar de fascínio que amolece, seduz e enaltece o coração de qualquer um. A verdade é que ela não sabe o poder de sedução que possui.
Na festa, ele cumprimentou e conversou com vários amigos e conhecidos. Havia um palco, não demorou muito para a banda começar a tocar. As pessoas dançavam e bebiam. Por um segundo invejou os fumantes, ao menos eles têm o que fazer com as mãos. Que droga de timidez! – pensou - Não quer se abater. Pegou uma cerveja e dispersou um pouco da turma que o acompanhava. Caminhou pelo ambiente entre as pessoas, as caras e bocas, as conversas, risadas e vozes. Procurou sua amada, no primeiro momento sua busca foi em vão.
Aproximou dos amigos, cordiais lhe oferecem mais cerveja. Aceita e logo bebeu um gole tentando aliviar a ansiedade que o tomava. De súbito, uma mão repousa no seu ombro esquerdo, uma doce voz fala oi e seu nome. É ela! A mão desliza do ombro com delicadeza e um terno abraço é concretizado. Muitos Parabéns, votos de felicidade e agradecimentos são ditos. Não se esqueceu da sua pretensão, mas ficou imóvel, achou não ser o momento certo. Foi sábio, se encontrava na frente de muitas pessoas, poderia deixá-la constrangida.
Aproveitou bem a festa, não se privou muito. Conversou bastante com várias pessoas, dançou, bebeu. Sempre observando a procurá-la. Cansado, se sentou à mesa. Colou o copo a sua frente e ergueu a cabeça, avistou no horizonte ela conversando com um cara de quem teve um breve namoro passado. Pareciam bem íntimos, acha o cara bem mais atraente que ele. Logo pensou que tudo estava perdido. Imaginou e fantasiou possibilidades. O ciúme ardeu à face. Sentiu um nó no estômago. Esticou o braço com a mão aberta. A visão que obteve foi como se ela estivesse na palma de sua mão. Como fosse uma daquelas delicadas bailarinas de caixinha de música. E vislumbrou a cena que mais desejara. Imaginou ele e ela num lugar mais tranqüilo da festa. Ela o abraçou e disse que o admirava muito. Ele sem perder a oportunidade disse que gostaria de ser sincero com ela. Ela o fita com um olhar de dúvida e espera-o dizer algo. Ele respirou fundo, olhos nos olhos, se enche de coragem e diz:
—Sabia? Você é muito bonita... Esquece a última coisa que quer é alguém falar o óbvio, dizer como é bonita.
Ela agradece, mas o encara. Quer saber o que realmente ele quer e indaga:
— Você me acha bonita?
—Não é só isso. Deveriam criar um novo gênero por sua causa. É que você é tão linda que dá vontade de bater a cabeça, tanto que penso em olhar você de novo. Só olhar para você não adianta. Encarar é o único jeito que faz algum sentido. E tento não piscar que é para não perder nada, nem um segundo. Sou apaixonado por você e...
Ela o interrompeu colocando o dedo indicador na boca dele, num gesto de silêncio. O momento, o apogeu, um beijo acontece. Num estralo se viu de volta a amarga realidade. Trêmulo, foi fechando a mão devagarzinho. Imagine que uma luz de forte brilho estivesse em sua mão e conforme o punho torna-se cerrado, a luz fosse diminuindo até desaparecer. Era assim que ele sentiu. Pior era saber que quando abrisse a mão, a luz não existira e ali só permaneceria o nada. Lamentou: ”tão perto e num momento tão longe”. Convicto de tudo estar perdido. Quis beber, se ergueu da mesa e debruçou no balcão. E desce uma, desce duais e desce mais. Como bebeu. Sabe que sua introspectividade sempre o empurrou para o fundo do poço. Assim, elegeu o copo seu único companheiro, compreensivo e bajulador. Até invocou Drummond. Olhou para o copo e depois para a linda lua que havia naquela noite e refletiu:
— O poeta tava certo! - E balbuciou - “mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo”. Riu do próprio sofrimento.
O que a mente não faz pelo coração partido quando o álcool é farto! Todos bêbados, ele e seus amigos, entre gargalhadas e cantaroladas foram para a saída da festa. Não esperava ou talvez estivesse bêbado demais para esperar. Ela estava ali à porta, despedindo dos convidados. A fila andava como num matadouro, aquela apreensão, chegou a sua vez. Como lhe é perpétuo, ela o recebeu com um imenso sorriso. Ele sentiu um ardor, o coração disparou. Olhou-a nos olhos e tentou dizer algo, mas gaguejou. O nervosismo o impele de falar, o suor, as mãos trêmulas, apenas um abraço aconteceu. Ela se constrange, suas maças do rosto ficaram rosadas, sentia que ele gostaria de lhe falar algo. Com um breve suspiro, um sorriso tímido no canto da boca, ele se virou e partiu. Por trás o medo coage, transforma coragem em apreensão, alento em recuo. O que era tangível passa a ser inatingível, olhou para as mãos e pergunta o que sobrou. O nervosismo o sucumbe, acaba se enrolando nos próprios pensamentos. A confusão de idéias o fez explicar a si mesmo ilógicas nem mesmo fundamentadas e que acreditar em coisas regidas por ideais, sempre o fez descobrir que o ritmo da realidade segue em sintonia diferente do ritmo de seu próprio coração.
No carro indo para casa, se corroeu por dentro, sentiu uma vergonha com um misto de raiva de si próprio, pela incapacidade de se declarar à mulher que tanto estima. Chegou em casa. Quase caiu quando saiu do carro, com tropeços mal conseguia ficar de pé. O mundo girava. As chaves na mão. Com muito custo adentrou. Na cozinha pegou um copo d’água, sentou a mesa e desmanchou em prantos. Se debatendo num choro de desespero alternava entre gargalhadas e soluços, aquelas lágrimas insanas somente confirmam a noite em vão.
Acordou com a cabeça latejando em dor, meio-dia marca o relógio. A ressaca, o cheiro de noitada e um gosto desagradável amarga à boca. Quer levantar, mas não consegue. O corpo não quer deixa-lo encarar mais um dia dessa vida agrura que ele mesmo desenhou. Como de costume, talvez por desencargo de consciência, para se sentir melhor perante as asneiras que fez e falou na decorrente noite, fez aquela fatídica promessa de largar a bebida de vez.
A expectativa ronda sua mente. É aniversário da mulher que enaltece seus anseios. Decidiu ir à festa acompanhando os amigos. Não estava com tanta vontade de farra, pensara ver um filme na TV ou fuçar besteiras na Internet. Mas decidiu ir, acha que chegou o momento de se declarar. Acredita ser a menina certa, já algum tempo sentia falta de uma namorada. Uma pessoa que o compreenda e o complete. Seu problema é crer demais nos amores perfeitos dos seus filmes e livros preferidos, talvez, por isso seja muito recluso às vezes. Movido pelos sentimentos com a ida à festa, adotou uma convicção que o encheu de coragem para tentar cortejar a mulher que tanto lhe embaraça os sonhos.
Entre ele e ela existe uma amizade bacana, mas ele se maltrata demais em sentir culpado de ter apaixonado por ela. Ela não sabe, ou finge que não, ele nunca foi franco com ela sobre seu verdadeiro sentimento. Vive a lamentar, se deveria ser sincero com ela, pelo menos uma vez. Mas é temeroso demais em não ser correspondido. Se apaixonar por ela não é algo difícil, é uma mulher que detêm uma beleza exuberante. Olhos verdes claros que reluzem um fitar indefectível com um jeitinho meigo e doce de falar. Além da beleza, é uma pessoa muito carinhosa e atenciosa. Petulância ingênua. Suas qualidades instigam um ar de fascínio que amolece, seduz e enaltece o coração de qualquer um. A verdade é que ela não sabe o poder de sedução que possui.
Na festa, ele cumprimentou e conversou com vários amigos e conhecidos. Havia um palco, não demorou muito para a banda começar a tocar. As pessoas dançavam e bebiam. Por um segundo invejou os fumantes, ao menos eles têm o que fazer com as mãos. Que droga de timidez! – pensou - Não quer se abater. Pegou uma cerveja e dispersou um pouco da turma que o acompanhava. Caminhou pelo ambiente entre as pessoas, as caras e bocas, as conversas, risadas e vozes. Procurou sua amada, no primeiro momento sua busca foi em vão.
Aproximou dos amigos, cordiais lhe oferecem mais cerveja. Aceita e logo bebeu um gole tentando aliviar a ansiedade que o tomava. De súbito, uma mão repousa no seu ombro esquerdo, uma doce voz fala oi e seu nome. É ela! A mão desliza do ombro com delicadeza e um terno abraço é concretizado. Muitos Parabéns, votos de felicidade e agradecimentos são ditos. Não se esqueceu da sua pretensão, mas ficou imóvel, achou não ser o momento certo. Foi sábio, se encontrava na frente de muitas pessoas, poderia deixá-la constrangida.
Aproveitou bem a festa, não se privou muito. Conversou bastante com várias pessoas, dançou, bebeu. Sempre observando a procurá-la. Cansado, se sentou à mesa. Colou o copo a sua frente e ergueu a cabeça, avistou no horizonte ela conversando com um cara de quem teve um breve namoro passado. Pareciam bem íntimos, acha o cara bem mais atraente que ele. Logo pensou que tudo estava perdido. Imaginou e fantasiou possibilidades. O ciúme ardeu à face. Sentiu um nó no estômago. Esticou o braço com a mão aberta. A visão que obteve foi como se ela estivesse na palma de sua mão. Como fosse uma daquelas delicadas bailarinas de caixinha de música. E vislumbrou a cena que mais desejara. Imaginou ele e ela num lugar mais tranqüilo da festa. Ela o abraçou e disse que o admirava muito. Ele sem perder a oportunidade disse que gostaria de ser sincero com ela. Ela o fita com um olhar de dúvida e espera-o dizer algo. Ele respirou fundo, olhos nos olhos, se enche de coragem e diz:
—Sabia? Você é muito bonita... Esquece a última coisa que quer é alguém falar o óbvio, dizer como é bonita.
Ela agradece, mas o encara. Quer saber o que realmente ele quer e indaga:
— Você me acha bonita?
—Não é só isso. Deveriam criar um novo gênero por sua causa. É que você é tão linda que dá vontade de bater a cabeça, tanto que penso em olhar você de novo. Só olhar para você não adianta. Encarar é o único jeito que faz algum sentido. E tento não piscar que é para não perder nada, nem um segundo. Sou apaixonado por você e...
Ela o interrompeu colocando o dedo indicador na boca dele, num gesto de silêncio. O momento, o apogeu, um beijo acontece. Num estralo se viu de volta a amarga realidade. Trêmulo, foi fechando a mão devagarzinho. Imagine que uma luz de forte brilho estivesse em sua mão e conforme o punho torna-se cerrado, a luz fosse diminuindo até desaparecer. Era assim que ele sentiu. Pior era saber que quando abrisse a mão, a luz não existira e ali só permaneceria o nada. Lamentou: ”tão perto e num momento tão longe”. Convicto de tudo estar perdido. Quis beber, se ergueu da mesa e debruçou no balcão. E desce uma, desce duais e desce mais. Como bebeu. Sabe que sua introspectividade sempre o empurrou para o fundo do poço. Assim, elegeu o copo seu único companheiro, compreensivo e bajulador. Até invocou Drummond. Olhou para o copo e depois para a linda lua que havia naquela noite e refletiu:
— O poeta tava certo! - E balbuciou - “mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo”. Riu do próprio sofrimento.
O que a mente não faz pelo coração partido quando o álcool é farto! Todos bêbados, ele e seus amigos, entre gargalhadas e cantaroladas foram para a saída da festa. Não esperava ou talvez estivesse bêbado demais para esperar. Ela estava ali à porta, despedindo dos convidados. A fila andava como num matadouro, aquela apreensão, chegou a sua vez. Como lhe é perpétuo, ela o recebeu com um imenso sorriso. Ele sentiu um ardor, o coração disparou. Olhou-a nos olhos e tentou dizer algo, mas gaguejou. O nervosismo o impele de falar, o suor, as mãos trêmulas, apenas um abraço aconteceu. Ela se constrange, suas maças do rosto ficaram rosadas, sentia que ele gostaria de lhe falar algo. Com um breve suspiro, um sorriso tímido no canto da boca, ele se virou e partiu. Por trás o medo coage, transforma coragem em apreensão, alento em recuo. O que era tangível passa a ser inatingível, olhou para as mãos e pergunta o que sobrou. O nervosismo o sucumbe, acaba se enrolando nos próprios pensamentos. A confusão de idéias o fez explicar a si mesmo ilógicas nem mesmo fundamentadas e que acreditar em coisas regidas por ideais, sempre o fez descobrir que o ritmo da realidade segue em sintonia diferente do ritmo de seu próprio coração.
No carro indo para casa, se corroeu por dentro, sentiu uma vergonha com um misto de raiva de si próprio, pela incapacidade de se declarar à mulher que tanto estima. Chegou em casa. Quase caiu quando saiu do carro, com tropeços mal conseguia ficar de pé. O mundo girava. As chaves na mão. Com muito custo adentrou. Na cozinha pegou um copo d’água, sentou a mesa e desmanchou em prantos. Se debatendo num choro de desespero alternava entre gargalhadas e soluços, aquelas lágrimas insanas somente confirmam a noite em vão.
Acordou com a cabeça latejando em dor, meio-dia marca o relógio. A ressaca, o cheiro de noitada e um gosto desagradável amarga à boca. Quer levantar, mas não consegue. O corpo não quer deixa-lo encarar mais um dia dessa vida agrura que ele mesmo desenhou. Como de costume, talvez por desencargo de consciência, para se sentir melhor perante as asneiras que fez e falou na decorrente noite, fez aquela fatídica promessa de largar a bebida de vez.
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