Mostrando postagens com marcador poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poesia. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de março de 2009

"tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
Só enquanto eu respirar, Vou me lembrar de você"

O anjo mais velho - Teatro Mágico

Que ares são esses que não me trazem o cheiro da flor?
o ar está pesado, quente, úmido.
Será os ares que trarão as torrentes de Março?

No aconchego dos meus sonhos, ela transita
Dentre as penumbras das minhas incompreensões
Surge graciosa, rodopia e sorri.
De cabelo vermelho de saia rodada
Vem de encontro, para e me encara
Ela desvenda meu olhar
Lê o meu silêncio
Seu sorriso me encanta
Se faz bela
me entrega uma flor e desaparece.
Meu brilho eterno de ternura .

Olho minhas circunstâncias
e descrente me sinto.
o fim do verão virá.
Sem o brilho da minha flor?

sábado, 17 de janeiro de 2009

Uma Pitada de Bandeira

O impossível carinho

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor

- Eu soubesse repor-
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira

sexta-feira, 18 de maio de 2007

...

Dias de reticências...
Por não estar havendo dias melhores. Escrevi esse “joguinho” de palavras.

Caia realidade, caia o real. Caia gota, cada gota. Gota por gota. Daí enche o copo, transborda. Não vai fazer diferença se o tijolo cair em pé ou deitado. A realidade bate à cara. O chão duro do real. Bate à cara. A face arde, queima. A realidade vem assim, jogada. Na cara. Dor latente da incapacidade que envergonha. Acerba vida real. O tangível é o que assusta. Caia na real. Um despertar, como abrir os olhos e descobrir o que estava na palma da mão jamais esteve. Era apenas um sentimento de confiança. Antes, destreza em encarar a vida, sentir os pés no chão. Respirar e estar vivo. Mas o tapete foi puxado. Caia realidade. O duro impacto do real. Desperta um vazio, um vácuo, um nada. Encostos, bases e alicerces. É sentir sua estrutura ruir. Corroer, esfarelar, desmanchar. Sobra ausência. Cruel realidade. Tênue aos anseios, sonhos e metas. Talvez seja por isso. Seja por isso que as pessoas são tão simplistas. É porque a realidade oferece duas alternativas: sim ou não, é ou não é, pra lá ou pra cá, verdade ou mentira, isso ou aquilo, em cima ou em baixo, direita ou esquerda, pra frente ou pra trás! Dilemas. Dicotômicos, soluções indesejáveis, escolhas desgastantes, decisões irreversíveis. A vida em constante trade-off. Não adianta indagar onde foi o erro. Ele é resultado de todo um processo. Vários acontecimentos, ganhos e perdas. Oportunidades desperdiçadas. Desde a criação à libertação. Crescer, não precisar mais dar à mão para caminhar. Antes, foi para aprender, hoje vive à procurá-la. O real aplica a rasteira. Cadê a mão para te levantar agora?

O momento parece oportuno para invocar um belo fragmento de Vinicius aqui.

“Resta essa imobilidade, essa economia de gestos / Essa inércia cada vez maior diante do Infinito / Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível / Essa irredutível recusa à poesia não vivida (...) / Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo / Infantil de ter pequenas coragens”.
Vinicius de Moraes

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Da poesia à Lei Áurea

E como nós (tropicais sensacionais) funcionamos no reverso: 119 anos se passaram, estamos no séc. XXI e o negro continua maioria à margem da sociedade.

Um resgate à Castro Alves.

Incluso num curso de humanas. Constato na Ciências Sociais que seus discentes não exprimem tanto interesse na literatura e na poesia. Quando tal interesse existe é visível a preferência por autores estrangeiros. A leitura é vital num curso tão acadêmico como C. S., o discente precisa dialogar constantemente com varias áreas do conhecimento e a literatura é um prato cheio para constatamos traços culturais (costumes, linguagens e ideias) que existiram ou ainda perduram na sociedade. Está semana redescobri Castro Alves, já havia lido alguns dos seus poemas no colégio. Confesso que tive influência do programa Recorte Cultural da TVE Brasil de sábado passado quando passou um verso do autor. Via biblioteca: Castro Alves, Antônio de. Antologia poética. Companhia José Aguilar Editora, 1975.

A proposta aqui é uma dica de boa leitura, é bacana conhecemos mais os autores brasileiros, principalmente, os mais clássicos. Uma característica interessante é a posição abolicionista de seus versos. Um poeta defensor do ideal de liberdade. O poema "Navio negreiro"escrito em Abril de 1868 é um dos mais primorosos do autor. Destaco três passagens belíssimas. Na 4ª parte do poema, o autor descreve a condição dos escravos, uma passagem que nos faz refletir sobre a condição humana. Até que ponto o homem pode ser asqueroso, mesquinho, covarde, numa forma bem hobbesiana ("O homem é o lobo do homem"). Vide 4ª parte na íntegra, porque ela é realmente primorosa:


Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

O segundo destaque é a indignação do poeta pela escravidão, condição que privou pessoas de suas vidas, isto é, do valor mais digno considerado essencial da condição humana pelo autor, a liberdade. Vide fragmentos da 5ª parte, respectivamente, estrofes I, II, III, V, VIII e IX:


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

[...]

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

[...]

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...


Haja vista nos destaques anteriores que o autor usufrui de muita eloquência e em muitos momentos essa eloquência supera a estética poética. O último destaque se refere a alegação do autor em proferir a sociedade brasileira da época como culpada de aceitar e ser conivente com a escravidão. Vide 6ª parte:


Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!



Uma coincidência inesperada

Para minha surpresa, na semana que redescobri Castro Alves coincidiu dos 119 anos da Lei Áurea, domingo último, dia 13 de maio. De fato, faço um vínculo aqui meio arbitrário, mas é uma boa data para refletirmos um pouco sobre as diferenças raciais no Brasil. Parece que aqui, os problemas de uma "herança escravista" foram superadas. Na realidade não foram. No Brasil têm um senso comum de achar que aqui é a "terra da mistura", onde os povos se dão bem e coisa e tal. O problema não é se essa "herança" foi superada ou não, mas a falta de um debate nacional amplo e contundente, principalmente da grande mídia. Aqui na universidade mesmo, ninguém lembrou do assunto, seria uma boa data para que nesta semana acontecessem seminários e palestras acerca das diferenças raciais. Parece haver um "certo" esquecimento que infelizmente produz a sensação de que já contornamos quaisquer problemas raciais. Entretanto, as estatísticas mostram que não avançamos muito.
  • Segundo o Atlas Racial Brasileiro de 2004, publicado pela PNUD (ONU). 65% dos pobres e 70% dos indigentes brasileiros são negros. A taxa de mortalidade infantil entre os filhos de mulheres negras é de 66% acima da taxa entre os filhos de mulheres brancas.
  • Na pesquisa denominada "Retrato das desigualdades: Gênero e raça", realizada pela Unifem da ONU e o Ipea. 21% das mulheres negras são domésticas e apenas 23% delas possuem registro. Em contrapartida, das mulheres não negras, 12,5% são domésticas e desses 12,5%, 30% possuem registro.
  • Em 2003, 16,8% dos negros com mais de 15 anos eram analfabetos. 7,1% dos não negros com mais de 15 anos eram analfabetos.
  • Com um país que a metade da população é negra, apenas 5% de todos os alunos de universidades são negros.
  • Segundo o site Congresso em Foco, os representantes afrodescendentes correspondem a 2,5% do parlamento.

E aí? O que você acha? Será que podemos deixar passar esta data em branco?

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Uma pitada de Neruda

O final do "Poema 20" de "Veinte poemas de amor y una canción desesperada" é a estrofe mais bonita, delicada e prodigiosa que li em um poema.

"Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos. Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero. Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido. Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos, mi alma no se contenta con haberla perdido. Aunque éste sea el último dolor que ella me causa, y éstos sean los últimos versos que yo le escribo."

sábado, 28 de abril de 2007

Um pouquinho de Drummond para enaltecer o sábado

Adoro este poema.

Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade