domingo, 1 de junho de 2008

Talvez dias ruins possam conter um início de uma grande história.

Dedicado a Nath Tavares.


Aquele dia havia sido cansativo no escritório. Logo depois de bater o ponto, pegou ônibus lotado, chegou atrasado na aula, cumprindo o cotidiano dever de assinar a chamada e agüentar uma interminável explanação. Exausto, voltava para casa carregando o que sobrou de sua carcaça. Pela via do prédio onde estuda, seguia para direção da saída principal do campus. Uma via muito arborizada, o que a noite dava certa apreensão por ser escuro em determinados lugares. Saiu do prédio e quando passou em frente ao ponto de ônibus, viu uma moça sentada transparecendo impaciência pela demora do próximo itinerário. Estava sozinha e ao passar diante dela viu que chorava. Passava a mão pelos olhos recorrentemente, respirava fundo e puxava para trás das orelhas as mechas do cabelo que teimavam em cair sobre a face. Tentava engolir o choro, mas os soluços não deixavam. Sentia nela um rancor, um choro de raiva. A moça olhava para o chão e ele ali parado sem saber o que fazer, sentia um aperto no peito. Decidiu se aproximar:

- Oi está tudo bem?

Ela virou a cabeça em sua direção, mas ainda fitava o chão. Ficara meio atrapalhado com o silêncio da moça e prosseguiu:

- Claro que não está né?! Se está chorando e demonstrando tamanho escárnio. Contraditório da minha parte – ela ainda olhava para o chão – Aconteceu alguma coisa, você está... eer... Digo... passando mal? Precisa de algo que posso ajudar?

- Não, pode deixar... está tudo bem, obrigada! – com a voz trêmula e fraca pelo choramingo, ao falar desviava o olhar.

- Na real, bem não está né?! Você está aos prantos. E, eu, perguntando se aconteceu algo. Deve ter acontecido. Você está chorando!

Por não saber lidar com a situação se atrapalhava com as palavras. Pelo seu jeito atrapalhado, a moça deu uma respirada funda acompanhado de um sorriso de canto de boca, foi a primeira vez que ela olhou nos seus olhos. O tímido sorriso evidenciara súbitas covinhas, aí ele se deu conta de quanto ela era realmente bonita. Cabelos negros lisos na altura dos ombros, o rosto com traços delicados, nariz afinado, algumas sardas, pequena boca de lábios perfeitamente desenhados e um olhar meigo. Pensou que aqueles olhos vermelhos de choro não combinavam com uma figura que parecia ser afável. Ele se perguntava o que poderia ter causado tamanha chateação. Ela responde:

- Não se preocupe! Vou ficar bem.

- Tem certeza?

- Tenho. Obrigada.

- Está bem. Só queria ser gentil. Independente daquilo que esteja passando, estimo que tudo acabe bem. Até!

Pensava em ajudar. Ficara curioso, quem não ficaria, fez por boa intenção. Mas, algo mexeu com ela, quem seria aquele rapaz que se mostrou tão prestativo. Achou-o bem gentil mesmo. Ele havia andado alguns passos quando ouviu:

- Espere! – Surpreso ele a olhou com afinco – Meu ônibus deve demorar que tal conversar... e... é... – tímida faltaram palavras para ela.

- Conversar, claro! – ela sede um lugar no banco e ele senta ao seu lado – Eu ficaria bem se você me falasse o que te aflige. Claro se você quiser né?!

- Aquele babaca aprontou de novo.

- Seu namorado?

- Agora é ex definitivamente, dessa vez não passa. Já o perdoei diversas vezes, mas essa é a gota d’água.

- Quer falar sobre isso?

- Não.. mas ah...

- É outra pessoa?

- É.

- Você acha que acabou mesmo?

- Tô sofrendo, gostava dele... Mas não posso prosseguir assim.

- Recomeçar de novo, isso só você poderá saber. Mas, olhe para você. Uma mulher tão bonita, se matando por alguém, ao certo não lhe dava valor. Se ele ao menos lhe respeitasse, teria terminado antes de ficar com outra pessoa.

- Fui uma boba mesmo. Há algum tempo deixou de ser carinhoso, na verdade nunca foi muito atencioso. Ciumento, não podia olhar para o lado que queria saber para quem eu estava olhando. Sem eu olhar para ninguém. Agora ele, não era nem um pouco discreto com um rabo de saia.

- Não desanime, para que chorar? Pergunte se ele era tão bom assim para você? Creio que se fosse não teria feito.. o sei lá o que ele fez... O melhor que você tem a fazer é achar alguém que dedique a você o tão quanto você dedique a ele. Bonita assim, pretendente não faltará – ela deu um breve sorriso tímido pelo elogio.

- Você é legal! Meio atrapalhado, gesticula as mãos quando não consegue achar as palavras para falar. Obrigada, sabia que estou me sentindo até melhor! – Ele abriu um sorriso, se sentiu contente.

- Fico feliz em te deixar um pouco melhor. Eer... eu nem disse meu nome. Sou o Gabriel.

- Me chamo Ana.

Conversaram por longos minutos. Conversaram como velhos amigos, uma bela sintonia. Trocaram telefones. Falaram sobre diversas coisas e talvez o mais importantes, riram bastante, muitas vezes com gargalhadas. Estavam felizes juntos ali. Suavizando assim os pesos de um cara cansado pela rotina, responsabilidades e falta de tempo, quanto às dores de uma menina que feriu seus sentimentos por ter um bom coração.

O ônibus dela chega.

- Tenho que ir. Foi um prazer.

- O prazer é todo meu. A gente se verá depois?

Os dois se olham por um instante, parecia que o tempo parou, nem que por um segundo. Os olhares em brilho, ela diz com um largo sorriso:

- Com certeza.

6 comentários:

Anônimo disse...

Oh biel vc é 10 d+!=]
Já te disse que a crônica ficou super bacana, né?Muito bem escrita e que nos leva a imaginar tudo!Adorei! E quanto a dedicatória, fiquei mto feliz!Vc é mto especial!Adoro vc!...E estarei aqui sempre pra te ouvir e ler sua crônicas fantásticas!=]
Beijos

Anônimo disse...

biiié
ótimo texto...adorei! eh verídico sr. padovani???
pode dar uma dica?
escreva menos formalmente... fica mais confortável para ler.
mais limpo e simples. (eu acho)
bjuuu amo vc mermão =]

Unknown disse...

adoro essa coisa de 'sera que aconteceu mesmo'? isso eh sinal de boa escrita! a gente entra na historia... elogio e repito: talento jornalistico desperdiçado :) hehe adoreeei, biel! mais uma vez! bjos e continue escrevendo, sempre...! ps: belo nome o da moça! hihihi

Unknown disse...

"Quem é mais sentimental que eu"..

Adorei Biel, imagino a cena do inicio ao fim, pode escrever roteiros para filmes também,rsrs..

Meu amigo tem o coração do tamanho GG!!

Gabriel disse...

uma obs: o comentário de Nilsinho está no conto de baixo.

Luizg. disse...

pois é meu caro,

fico lisongeado com suas visitas e seus elogios. eu tento evitar existencialismos, mas eles me acometem quase sempre e não me parece justo guarda-los..enfim...

quanto a seu conto. eu já tinha lido. gosto da estrutura e gosto da simplicidade. acho que vc pesou a mão nos diálogos. mas isso não tira a beleza do encontro, ou do vínculo...

venho sempre aqui também.

continue escrevendo que eu continuo lendo.

abraços!