quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Alô? Quem? Um momento...É pra você...

Recebi uma ligação estes dias que me preocupa bastante. Posso agora dizer: Eles me descobriram, que merda! Vou lembrar da época que me sentia um anônimo para os bancos. Antes os telemarketing ligavam aqui para casa na procura do meu pai ou minha mãe, mas agora vieram atrás de mim! Faça a conta, aqui em casa são 4 pessoas (eu, papai, mamãe e irmã), por semana é uma média de 4 ligações oferecendo cartões para 2 pessoas, agora com mais uma pessoa para eles importunarem minha perspectiva malthusiana indica que acabou o sossego. Essas empresas ligam para cá mais que meus parentes, já começo a refletir, será que minha família não gosta dá gente ou os telemarkenting que gostam muito dos nossos “nãos”. Diz que a insistência é uma qualidade muito humana. Sabe lá...Se há algo que mais odeio na vida é o tal de telemarketing. Atendimento ao cliente é uma coisa, mas o cara querendo te convencer das vantagens de seus serviços bancários e do terrível escravizador cartão de crédito para mim é algo totalmente inútil. Culpa da lógica do Marketing: Criar necessidade. Ou você acha que celular sempre foi um artigo básico de sobrevivência humana? Olha que com meus jovens 22 anos, lembro da época que ninguém tinha celular e nem por isso as pessoas deixavam de se encontrarem e relacionarem com as outras. Acredito que as duas piores formas de marketing são o tal de telemarkentig e aquelas pessoas que distribuem folhetos nas esquinas. Não é o possível que o cara gasta 4 anos numa faculdade para aprender a fazer folheto e montar uma central de telemarketing. É, a educação superior está em crise mesmo...

O telefone tocou e sabe quando a gente atende e lá vem aquele barulhinho de transferência de ramal, pensei – Que inferno! Mais um telemarketing. Como não tenho memória de elefante, tentei lembrar ao máximo o diálogo.
- Alô?
- Bom dia! Por favor, o senhor G. F. P.?
- É ele.
- Senhor Gabriel. Realizamos uma pesquisa na cidade de Sete Lagoas e avaliamos que o senhor possui o perfil para ‘estar recebendo’ as vantagens do cartão Itaúcard.
- Mas eu...- me interrompeu. Com aquele sotaque carioca irritante, pensei: vou fazer hora com esse cara. Por que? Porque eu adoro carioca! (Leia isso com bastante ironia e sarcasmo).
- Qual sua profissão?
- Estudante.
- Estado civil?
- Solteiro. Isso é mesmo necessário?
- Sim, Senhor. Confirmando seus dados o senhor receberá o Itaúcard sem taxa de anuidade por 1 ano e durante seis meses a alíquota do cartão de X,XX% (não me lembro do número exato). Sabe o que significa?
- Não.
- O senhor receberá um serviço Premium de graça por um ano [cartão de crédito de graça??? - pensei] com alíquota abaixo da aplicada a um correntista do nosso Banco. Isto não é realmente imperdível?
- Oh, mas se não é?! Mas vem cá?
- Sim.
- Como eu posso ter um cartão se eu não possuo renda?
- Não há problema nenhum, o senhor receberá seu cartão com todas as vantagens, livres de qualquer consulta de histórico financeiro.
- Ah! Sei...Então se eu comprar no cartão você paga para mim?
- Não, o senhor não entendeu bem. O senhor poderá parcelar suas compras com a menor alíquota do mercado. – Senhor para cá, senhor para lá, já começava me irritar.
- Sei...hum, mas como eu posso gastar o que não tenho? Como vou pagar aquilo que nem posso comprar? Não tenho renda, não trabalho.
- Sem problema. Parcelando suas compras o senhor paga a primeira parcela 30 dias úteis do dia que efetuou a compra. Nesse período o senhor poderá já ter resolvido sua atual situação. – Segurei para não chorar de rir...
- É. Infelizmente não posso aceitar o cartão.
- Como senhor?
- Não sei se você já fez aula de economia, mas sem querer vangloriar do meu discernimento, já fiz Introdução à economia, macro e microeconomia e economia brasileira. Logo se o que move o mundo é dinheiro, há um pressuposto básico que rege toda a lógica da grana: a lei de mercado, oferta e demanda. Se você não tem dinheiro para comprar, não há dinheiro para pagar. Como posso pagar aquilo que não posso comprar?
- É...ahn...Senhor? É...- Foi engraçado o cara ficar sem o que dizer.
- Oh sangue, num quero tomar o seu tempo mais não. Não quero cartão nenhum, acho que serviço bancário é o tipo de coisa que você vai atrás quando precisa. Tenha um bom dia!

Desliguei. Enquanto não recebo outra oferta de cartão, estou a bolar uma desculpa para não servir de demanda para Banco.

Um comentário:

Luizg. disse...

eu sou muito fã da abordagem do Seinfeld (um dos meus grandes ídolos pessoais, entre vários)
-olá, gostaria te te oferecer um serv...
-olha, eu to saindo agora, você poderia me dar o seu telefone que eu te ligo em casa, mais a noite.
-desculpe senhor... não posso fazer isso.
-não gosta de ser incomodado em casa, né?
-não.
-pois é. nem eu. (e bate o telefone)

eu já usei uma variação da sua. quando me perguntaram a renda eu disse que não tinha. nada, zero, zip, nothing. aí o cara ficou sem graça e falou que ligava em outra oportunidade...

cara. dois obrigados. um pela visita, outro por voltar a escrever...tava fazendo falta.

abraços grandes!